“Tia Marcela, sua partida revirou minhas memórias de infância. Das mais marcantes que guardo, só eu e meu irmão poderemos sentir. Você trabalhava em uma oficina no mesmo quarteirão de casa (Stopa). Nosso maior desejo era chegar da escola, almoçar e ir escondido te ver (claro que nossos pais não aprovavam essa saída, com medo de isso te prejudicar no trabalho). A gente passava em frente ao portão da oficina correndo e parávamos em um local que só você tinha nossa visão. Nossa alegria era te ver gargalhando dentro da sala do trabalho. As vezes a vó Mariana era cumplice, fazia logo um saquinho de guloseimas para entregarmos à você. Quantas vezes você e o Tio Lelê transformaram a área da casa na brincadeira mais gostosa da infância, com água e sabão. Quantas viagens!? Mar, areia, estrada, e até mexer no lixo por mim, para procurar meu aparelho dentário. Nossos brigadeiros de aniversários foram modelados por suas mãos e carinho. Seu sorriso para cada gesto de nossa infância foi de coragem, acolhimento, partilha, carinho, amor e ternura. Hoje meu trabalho é atender crianças, famílias de crianças. Você, com certeza, fez parte desse caminho profissional, pois me permitiu ser uma criança amada, querida, feliz e livre. As memórias que guardo me levam a um estado de contemplação. Sabe, quando contemplamos uma bela obra de arte? Cada detalhe do seu ser é arte! Seu amor pelos animais, sua conexão com a natureza, sua paixão pelo mar, pelos golfinhos, sua receptividade e acolhimento transbordam amor. De hoje em diante viverei a dor do luto e a delícia de ser sua sobrinha. 2 de fevereiro de 2023.”